Encarando a esfinge
As cidades, como os sonhos, são construídas por desejos e medos, ainda que o fio condutor de seu discurso seja secreto, que as suas regras sejam absurdas, as suas perspectivas enganosas, e que todas as coisas escondam uma outra coisa.
Italo Calvino
As cidades invisíveis
As cidades invisíveis
Cidades são misteriosas. Cidades são esfinges, que se escondem sob segredos, enigmas. Como desvendá-las? Como entender suas nuances? Para Charles Baudelaire o flanêur é aquele que vaga, que observa tudo ao redor e tem as ruas como amantes. Como desenvolver com a cidade uma atitude de flanêur, que valorize detalhes, objetos que escapam aos olhos no dia-a-dia?

O flanar nunca é gratuito. Intencionado, é uma atitude quase demodée, um estilo, que pouco se vê nas ruas. Quem (ainda) tem tempo para isto?
Decifra-me ou te devoro tem esta proposta: olhar com outros olhos aquilo que está ali, mas escapa. Uma busca do perdido.
Iniciamos com São Paulo, periferia, zona norte. Cidade grande, que pede muita atenção. Vai encarar conosco?

Um bairro, uma região, marcas de pertencimento, agressão, reclusão. É na pele da cidade que encontramos cicatrizes feitas por alguém. Vários alguéns. Muitos alguéns. Que se integram às camadas desta urbe e quase desaparecem sob elas. Você disse bom dia para seu vizinho hoje pela manhã? Ou para o jornaleiro da esquina? Quem ainda acredita nas belezas deste lugar? Ainda resta uma pontinha de esperança?

É uma busca incessante: Edson e Magali tentam decifrar as entrelinhas. Onde se escondem as sutilezas deste lugar?
Cresci ali no meio do verde. Criança, via os moleques da vizinhança tocarem a campainha para colher ameixas amarelas em um dos pés do quintal de casa. Agora estas ameixas se chamam nésperas. Na nova casa, a jabuticabeira mudou-se junto. Mas a mudança não foi fácil: anos e anos até que, finalmente adaptada, começasse a produzir. Hoje em dia, em época de fruta, é no tapete das bolas de gude negras que pisamos no jardim.
Nome de fruta mudou, o verde mudou, o cinza entrou. Onde ainda resiste o verde nesta paisagem? Em que pé de árvore as crianças daqui sobem? Que fruta roubada chupam?
Nome de fruta mudou, o verde mudou, o cinza entrou. Onde ainda resiste o verde nesta paisagem? Em que pé de árvore as crianças daqui sobem? Que fruta roubada chupam?

Um grupo de educadores, desbravadores, agora fotógrafos, que em 3 encontros busca o detalhe, a beleza escondida, a fotografia bacana, enfim, encarar o monstro. Suas imagens serão devolvidas à comunidade e à escola que nos acolheu, em uma intervenção no dia 25.set.2010. Seres mágicos estes fotógrafos, de onde será que tiram a foto? Da cartola?
Coletivo-Laboratório da Imagem
Marcadores: Coletivo-Laboratório da Imagem, etapa 1 São Paulo, formação, Funarte
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